As expressões relacionadas à produção vitivinícola proliferam atualmente como cogumelos. Após o ultimato de alguns mercados, que decretaram que até 2025 quem não obtivesse uma 'certificação verde' não venderia uma única garrafa, o fenômeno de 'greenwashing' popularizou-se. O que se tornou uma tendência, não apenas no setor vitivinícola, mas em todos os discursos empresariais, é o termo 'Sustentabilidade'. Tanto que o termo às vezes é usado em campanhas sem sustentação real, resultando em uma espécie de 'banho verde' ou apropriação injustificada de virtudes ambientalistas.
Ao menos o termo ganhou destaque, e o 'banho verde' está a contribuir para conscientizar as pessoas.
Desde a minha formação em agricultura biológica em 2012, tenho explorado diversas abordagens de produção. Permacultura e agricultura sintrópica foram as primeiras filosofias que investiguei.
Posteriormente, estudei a biodinâmica, que me conduziu a novas práticas, como a homeopatia na agricultura, a influência dos astros e a utilização de preparados como complemento aos tratamentos da vinha.
Recentemente, surgiu a agricultura regenerativa, que pode ser aplicada de forma abrangente a todas as filosofias produtivas, desde que tenham como objetivo a regeneração dos solos, visando capturar carbono, recuperar a vida e restabelecer a atividade microbiológica do solo.
Confesso que é com esse movimento que retorno ao tema de outras filosofias de produção às quais nunca dei muita importância, como o agropastoreio e a gestão de pastagens. Entrei em contato com nomes que desconhecia, como Alain Savory e John Kempf. Faço parte de um grupo no WhatsApp chamado 'Vinha Regen', onde tenho interagido com colegas da viticultura, funcionando como uma universidade aberta. Aprendo diariamente algo novo e hoje tenho uma confiança reforçada na capacidade dos profissionais da viticultura nacional.
Como produtor, também me associei à Associação de Viticultura Regenerativa (Espanha) com o objetivo de obter a certificação internacional RVA (Regenerative Viticulture Alliance). No entanto, menos de um ano após iniciar o processo, estou a considerar não prosseguir. Essa reflexão é o cerne deste artigo de opinião.
Independentemente da filosofia de produção, incluindo a agricultura convencional, todas compartilham algo em comum, inclusive o próprio termo 'Terroir'. Esse termo, comumente utilizado em estratégias de marketing ou nas descrições sensoriais dos vinhos, representa uma forma de 'Marketing de lugar', 'Pseudo-Terroir' ou 'Greenwashing de origem'. O que todas essas filosofias de produção têm em comum, assim como o 'Terroir' de um vinho, é o Homem. Ele é o elemento influenciador que, com conhecimento, inteligência, boas práticas, bom senso e um grande sentido de controle e monitorização, pode satisfazer de forma verdadeiramente sustentável os níveis ambiental, social e econômico. O mais crucial é garantir a sanidade e integridade do solo e da planta como base fundamental, seguida da sanidade e integridade do fruto e do vinho como fase intermediária, e finalmente, a sanidade e integridade do produto final e seu caminho até o copo. Nesse momento, o consumidor também desempenha um papel responsável, avaliando a qualidade do que consome e determinando o sucesso final.
Portanto, percebo-me como o principal responsável pelo meu processo produtivo. 'Da Terra... ao Copo!'® é minha responsabilidade aplicar todo o conhecimento para expressar o sentido de lugar do vinho, com a grande influência que tive em sua produção. Utilizo tudo o que sei e aprendi para aumentar a microbiologia do solo e sua capacidade de retenção de água, elevar a biodiversidade da cobertura vegetal, promover a interação dessa biodiversidade com a produção de uva, preparar extratos de plantas para fortalecer a videira e enriquecer a microbiologia e nutrição existente na pruína da uva, fundamental para a fermentação. Reutilizo resíduos e produzo meu próprio composto utilizando as lenhas da poda e os engaços, bagaços e borras de vinho, num esforço para manter uma economia circular.
Qual é o valor de uma certificação para mim? Acredito que seja limitado. Os processos e evidências que devo manter podem desviar-me do que é realmente importante. Ter alguém a fazer isso por mim ou implementar procedimentos e adquirir equipamentos inadequados ao meu tamanho levaria a uma insustentabilidade econômica, prejudicando todas as minhas boas intenções sociais, ambientais e empresariais. É isso que vejo na implementação do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola. Como produtor em escala humana, vejo esses processos como úteis para leitura e estudo, para depois extrair o essencial e, junto com o que considero mais importante, interpretar a parcela e o ecossistema, encontrando a solução mais adequada à minha escala.
A certificação é útil? Claro que sim, principalmente para estruturas em que a motivação pessoal e a implementação de uma filosofia de vida ou empresarial sejam difíceis. Sim…, ser sustentável é uma filosofia de vida! E isso não pode ser certificado, ou pelo menos não pode ser imposto com regras importadas de outras realidades ou regiões.
Confesso que vejo a certificação apenas como uma forma de aprimorar processos, assim como foi minha formação e certificação em agricultura biológica. Mas acredito que o consumidor valorizará mais o nome do produtor e seus valores, especialmente a geração mais jovem que está a começar a consumir vinhos. Aquele que assina sua produção, validando e certificando a origem, o terroir, o processo de produção e a filosofia de produção.
Concluindo… “à mulher de César não basta ser, é preciso parecer”! Mas na sustentabilidade, parecer e não ser é também muito perigoso. Uma falsa aparência é facilmente desmascarada!