Vinhos com Assinatura – Revista Paixão pelo Vinho – Abr2024
Vinhos com Assinatura – Revista Paixão pelo Vinho – Abr2024
Desde que terminou a sua licenciatura em Enologia, Paulo Coutinho tem dedicado a sua carreira ao Douro. Envolvido desde 1994 no projeto da Quinta do Portal, um projeto que se tornou uma parte essencial da sua jornada profissional e que considera também seu, o enólogo tem vindo, desde 2016 e em paralelo, a produzir os seus próprios vinhos, fruto do profundo vínculo que tem com as suas vinhas.
Embora muitos associem o Douro a outras castas, Paulo Coutinho mantém a Tinta Roriz como a sua escolha favorita, mesmo indo contra a corrente dominante na região. Os primeiros anos na Quinta do Portal foram cruciais para “o meu entendimento profundo dessa casta e a sua versatilidade na adega. Desde rosés até tintos mais encorpados, essa casta desempenha um papel fundamental no estilo da Quinta”. No entanto, a sua verdadeira paixão reside nas castas brancas. Ao longo do tempo, evoluiu da produção de brancos seguindo as tendências da enologia moderna para uma abordagem mais natural. “Hoje, vejo as castas brancas como verdadeiras ‘tintas albinas’, cada uma com seu potencial único”, indica. Por isso, acredita firmemente que a próxima grande onda no Douro será a “valorização dos vinhos brancos, à medida que comecem a ser elaborados com a mesma filosofia dos vinhos tintos. Na sua opinião um vinho verdadeiramente ‘único’ e ‘arrebatador’ para os sentidos transcende as meras características técnicas e sensoriais. “É aquele que tem o poder de contar uma história envolvente para quem o degusta, independentemente do seu nível de experiência ou conhecimento em prova de vinhos”. Mais, “iniciar a degustação com uma nota simples e discreta, que gradualmente se transforma numa experiência sensorial complexa e memorável, é o que torna
um vinho excecional. Este trajeto de ascensão pode ocorrer em minutos ou até dias após a abertura da garrafa, revelando
camadas de aromas e sabores inesperados que cativam e intrigam”. Este feito só é possível quando o vinho é produzido com um “profundo respeito pela uva e pelo terroir, refletindo o envolvimento íntimo do viticultor como parte integrante de um ecossistema natural e funcional”. É esse cuidado e conexão com a natureza que dão vida a vinhos que transcendem o comum, proporcionando uma experiência verdadeiramente memorável a quem os prova.
VINHOS DIFERENCIADORES
A motivação para começar a fazer seus próprios vinhos surgiu do profundo vínculo que tem com as suas vinhas. “Plantei a minha primeira vinha em 1992 e, em 2006, adquiri essa propriedade à minha família. Desde então, comecei a produzir vinho com parte das uvas dessa parcela, inicialmente para consumo pessoal e para compartilhar com amigos, começando com rosé e depois expandindo para tinto”.
Foi em 2012, após formação em agricultura biológica, que decidiu dar um passo em frente. Nesse ano, iniciou a transição
para o método de produção biológica e estabeleceu como objetivo engarrafar e comercializar o seu próprio vinho assim
que obtivesse a certificação. Esse processo foi concluído em 2016, marcando o início oficial do seu caminho como
produtor e engarrafador. Paulo Coutinho possui dois polos de produção distintos. A primeira é a Vinha da Fonte, que é composta por vinhas antigas, exclusivamente de uvas tintas. A segunda é a Vinha do Borrajo, plantada em 2016, situada a uma altitude de 600 metros e dedicada exclusivamente a uvas brancas. O branco Vinha do Borrajo da série regular, composto pelas castas Viosinho, Gouveio e Encruzado. Este vinho passa por uma fermentação com alguma curtimenta e fermentação maloláctica parcial, resultando em aromas dominados por frutos amarelos de caroço, além de uma estrutura e volume pouco comuns em brancos.
Já o tinto Vinha da Fonte, também da série regular, é elaborado a partir das 14 castas que compõem a parcela. Este Douro destaca-se pela sua elegância, bela acidez e distintos aromas silvestres e de ervas frescas do monte, respeitando as características das castas e sua origem.
Para além destes, Paulo Coutinho produz ainda um terceiro vinho, oficialmente classificado como rosé, mas que o próprio prefere chamar de Fusion. Este vinho é resultado da fermentação do sumo de uva tinta da Vinha da Fonte com as películas de uva branca da Vinha do Borrajo.
Com aromas semelhantes ao vinho branco e uma presença e estrutura que evocam o tinto, este vinho poderia ser descrito como um blanc de noir orangée.
Já a gama experimental Da Terra… ao Copo! é o espaço onde apresenta algumas das experiências. Geralmente, são produzidas em pequenas quantidades, uma barrica (300 a 400 garrafas) de algo que considera digno de partilhar. O Fusion, por exemplo, fez parte dessa série em 2020, antes de ser promovido para a gama principal a partir da colheita de 2021. •